A Sociedade em Rede – Manuel Castells
- Rafael Oshiro; Leandro Oshiro;
- 24 de mai. de 2015
- 6 min de leitura
Novas formas de organização social a partir das Redes.
O nosso mundo sofre hoje um processo de transformação de suas estruturas, este processo ocorre há duas décadas, e está associado a um novo paradigma tecnológico. Este novo paradigma começa a tomar formato nos anos 60. A sociedade irá dar forma à tecnologia de acordo com suas próprias especificidades.
Este processo de importância das redes para nossa época pode ser relacionado com a importância da eletricidade ou motor elétrico e seu papel nas formas organizacionais da sociedade industrial.
Atualmente muito se fala em sociedade da informação ou sociedade do conhecimento, entretanto pode-se dizer que tais nomenclaturas não seriam coerentes com a realidade, à informação e o conhecimento já consista como bases de sociedades antigas diversas, entretanto a diferença crucial é que a base dessa nova sociedade a sociedade em rede é a base microeletrônica e as redes tecnológicas que oferecem a oportunidade de organização social em formato de redes.
As redes fornecerem uma forma de organização mais flexível e adaptável, seguindo de um modo eficiente o caminho evolutivo dos esquemas sociais humanos, por outro lado muitas vezes não conseguiam maximizar esforços para realizar tarefas mais complexas, dessa forma dentro da linha da história as redes ficam no domínio da vida privada, enquanto as grandes organizações verticais, como: estado, igreja, exército dominavam vastos polos de recursos com o objetivo definido por uma autoridade central. Nesse caso as redes tecnológicas digitais são capazes de superar seus limites históricos, pois tem a capacidade de serem adaptáveis ao ponto de descentralizar seu desempenho ao longo da rede em diversos componentes, com a capacidade de coordenar essa atividade partilhando as decisões. Essas redes digitais são o ponto essencial da sociedade em rede tal quais as redes energéticas eram ponto vital da sociedade industrial, e esta sociedade em rede irá manifestar-se de diversas formas de acordo com a cultura, valores, instituições e trajetória histórica de cada sociedade.
A sociedade em rede também transcende fronteiras, pois a redes são globais, de forma generalizada podemos citar a globalização como parte do processo da sociedade em rede, está sociedade em rede já interfere em nossos meios de vida, serviços e bens, embora não inclua a todos já se faz se sentir na realidade de todos, e de diferentes formas.
Sociedade em Rede, estamos inseridos nela?
Devemos destacar que a sociedade em rede hoje forma o núcleo de nossa sociedade, embora muitos erroneamente tratem o assunto como se fosse algo do futuro, a sociedade em rede é algo que já está no presente, e desta maneira muitos intelectuais tradicionais tem dificuldade na aceitação dessas tecnologias, pois pouco sabem de tais processos, possuem certa visão ortodoxa sobre estas tecnologias digitais, observando apenas os imperativos capitalistas decorrentes desta revolução tecnológica digital, entretanto podemos também nos lembrar do oposto das maravilhas tecnológicas que podem substanciar a plena capacidade criativa do homem.
A sociedade em rede é uma estrutura social baseada em redes operadas por tecnologias de comunicação e informação baseadas na microeletrônica e em redes digitais controladas pelas pessoas a partir das informações geradas pelas mesmas.
Podemos observar a influência da sociedade em rede, primeiramente na economia em rede, nações que se adaptaram rapidamente a esse novo contexto tiveram aumento de sua produtividade, embora cada nação se adapte a sociedade em rede de acordo com o seu próprio contexto.
Vamos observar, por exemplo, uma substancial mudança nos mercados de trabalho, as mudanças tecnológicas não provocam desemprego no mercado de trabalho, embora certas funções exigiam um aperfeiçoamento em relação as novas tecnologias como por exemplo a troca de máquinas de escrever por computadores, para acompanhar a competitividade as empresas necessitam do aparato tecnológico. As empresas tendem também a valorizar o trabalho auto programado, pela sua produtividade a capacidade de trabalhar autonomamente, por outro lado as empresas tendem a subcontratar ou contratar trabalhadores em regime parcial que se acostumem ao trabalho rotinizado. Com a atualização frequente das tecnologias exige-se da força de trabalho que se mantenha adaptada a tais atualizações, os trabalhadores devem se organizar de novas formas para posicionar seus interesses não se tornando focos de resistência às mudanças tecnológicas e sim se adaptando a elas.
A sociedade em rede também se fundamenta nas mudanças da sociabilidade, ocorre à integração da realidade virtual com a virtualidade real, principalmente entre a população mais jovem e com uso de redes sem fios, percebe-se que os mais inseridos nas redes digitais são também os mais ativos socialmente e politicamente, a sociedade em rede é também a sociedade dos indivíduos em rede interligando-se conforme suas necessidades.
Iremos perceber fundamentalmente a sociedade em rede no que tange aos sistemas de comunicação, a comunicação é simultaneamente global e local, estando cada vez mais digitalizada e ao mesmo tempo interativa, com a explosão das redes horizontais de comunicação massificando mensagens globalmente e serviços que cada vez menos necessitam do amparo de governos.
A política que é dependente do espaço público da comunicação em sociedade, se transforma à medida que se insere na sociedade em rede, a mídia tradicional em particular a televisão pouco oferece além da imagem para o aprofundamento político, vantagem que oferecem as redes digitais de um aprofundamento no conteúdo político, ou seja, uma politização do individuo. Além desse fator podemos considerar o surgimento de um novo estado, como a sociedade em rede é global, percebemos a formação do estado da sociedade em rede, e como a governação global é um tipo de necessidade funcional necessita-se da interação entre os países para o bem comum.
A sociedade em rede é nossa sociedade em diferentes graus, e com diferentes formas dependendo dos países seus aspectos culturais.
Revolução Digital e a nova Sociedade.
Estamos já inseridos na sociedade em rede, entretanto apesar da necessidade do aparato digital para estimular à ampla competividade, este não se basta, para sociedade em rede desfrutar de seu pleno desenvolvimento é necessário à integração de setores como a tecnologia, negócios, educação, cultura, o desenvolvimento de infraestruturas, a mudança organizacional e a reforma institucional.
Dentre os pontos chaves que podemos destacar o setor público como fator decisivo para molda essa sociedade em rede, este setor carece de inovações tecnológicas incluindo a difusão da e-governação (conceito de governo eletrônico, englobando a participação dos indivíduos e abrangendo as diferentes áreas da educação, saúde, segurança) isso implica em uma profunda reforma no modelo burocrático atual. Destacaremos também o já falado trabalhador auto programado flexível e capaz de se adaptar as inovações tecnológicas, e nesse caso é de suma importância à renovação do sistema educacional abrangendo as novas tecnologias uma educação baseada no modelo de aprender a aprender, ao longo da vida, e preparada para estimular a criatividade e a inovação. E por fim o desenvolvimento global que permite os países e suas populações a capacidade aumentada de produtividade na sociedade em rede, implicando também na produção de recursos humanos necessários para gerar esse sistema, o novo modelo informacional de desenvolvimento beneficia os indivíduos pelo dinamismo em rede na competição global, mas o mesmo tempo ocorre à segmentação global da sociedade em rede coloca aqueles que nela não estão inseridos diretamente a margem da sociedade global os levando a certa irrelevância, temos nesse ponto uma contradição, pois quanto mais desenvolvemos a elevada produtividade menos precisamos desta parte da população marginalizada e mais difícil se torna para esta se inserir nesse novo paradigma tecnológico.
A criatividade e a inovação representam um papel importante nesta nova sociedade em rede, num mundo onde o processo de criação de inovação nas redes sociais são cada vez mais interativos e livres percebemos algumas heranças da Era Industrial no que se refere a direitos autorais, num mundo que visa o lucro e a acumulação do capital se fazem necessários acordos para que devido a esta herança não se trave o desenvolvimento de novas tecnologias.
Estamos testemunhando atualmente a contradição entre as relações sociais tradicionais de produção e a expansão de novas formas produtivas, porém sistemas sociais existentes muitas vezes travam a dinâmica da criatividade e isso pode leva-los ao fracasso como no caso da URSS, agora o capitalismo de rendimentos pode ser entrave à criatividade e dinamismo, sendo necessária à reforma do capitalismo incluindo novos direitos de propriedade intelectual e a difusão de um desenvolvimento tecnológico que responda às necessidades humanas de todo o planeta. E ainda há a questão da comunicação sem obstáculos, que nesse caso causa espanto aos governos, porém temem perder o controle da informação e da comunicação perdendo assim seu poder.
Aderindo a democracia da comunicação concorda-se com uma democracia direta não vista antes, admitem-se também aqueles que antes eram coadjuvantes se tornando protagonistas a partir das redes, e ainda há um longo caminho no meio termo para que a sociedade em rede possa se desenvolver plenamente.
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